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segunda-feira, 23 de março de 2020

SOBRE ANA MARIA PRIMAVESI



Depois de algum  tempo sem postar, graças à quarentena forçada pelo inimigo invisível que parou o Planeta Terra, estou de volta ao meu BLOG.

Não vou falar de Corona Virus. Já li e ouvi o suficiente para fazer um Doutorado em Stanford sobre esse tema.

Dando sequência à homenagem que estou fazendo a mulheres que fizeram e fazem a diferença no mundo,  hoje vou falar de mais uma mulher encantadora, inteligente e extremamente humilde: ANA MARIA  PRIMAVESI.

Esta austríaca de nascimento e brasileira de coração e alma, nasceu e cresceu na Áustria, em 03 de outubro de 1920, e faleceu no Brasil em 20 de janeiro de 2020, aos 99 anos.
Ainda na Áustria  adquiriu os primeiros conhecimentos em agroecologia com os pais agricultores. Perseguida pelo nazismo, ela foi presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, quando perdeu alguns entes queridos. Mas ela sobreviveu.


Nos anos 50 veio para o Brasil, onde iniciou a carreira acadêmica e a atuação militante. Nessa época, a chamada "Revolução Verde" disseminava novas práticas agrícolas que levaram ao crescimento desenfreado do agronegócio nos Estados Unidos e na Europa. Ela é uma das mais importantes pesquisadoras da agroecologia e da agricultura orgânica no Brasil e no mundo.

No Brasil, Primavesi foi professora da Universidade Federal de Santa Maria, onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação em agricultura orgânica. Foi também fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AOO) e do Movimento Agroecológico Latinoamericano (MAELA), e ao longo de sua carreira recebeu uma série de Prêmios, como o One Word Award, da Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica, e o prêmio do Ministério da Agricultura brasileiro. O Prêmio MAELA, que é concedido a cada dois anos, tem o seu nome - "Ana Primavesi Award".  Também recebeu títulos "Doctor honoris causa" em diversas universidades brasileiras.

Essa mulher excepcional publicou 94 artigos científicos no Brasil e em revistas internacionais. Além disso, escreveu 11 livros e colaborou em inúmeras outras publicações.
Seu trabalho de maior influência é o seu livro "Manejo Ecológico do Solo", uma verdadeira "bíblia" na área, que revolucionou a agricultura ecológica tropical na América Latina. O livro postula que um solo saudável é o pré-requisito para plantas saudáveis , que por sua vez vai contribuir para a saúde dos homens. Neste livro ela salienta a importância de restabelecer o equilíbrio entre o solo, organismos do solo, plantas, animais e seres humanos. 

Ana proferiu  mais de 500 palestras e cursos em universidades, institutos e congressos, e inspirou seu público ao redor do mundo.
Ao longo de sua vida, sempre buscou meios para o manejo do solo de forma consciente, integrada com o meio ambiente, além de uma agricultura que privilegiasse a atividade biológica do solo com um elevado teor de matéria orgânica. Sempre defendeu a substituição de insumos químicos pela aplicação de técnicas como a adubação verde, controle biológico de pragas, entre outras. Uma de suas contribuições foi a compreensão do solo como organismo vivo e possuindo diversos níveis de interação com a planta. Segundo ela, as diversas doenças e pragas que cada vez mais aparecem no mundo, têm relação com a agricultura convencional.

Primavesi afirmou também que " A agricultura convencional é a arte de explorar solos mortos (  ) as pessoas que comem agora estas colheitas, comem plantas doentes e também se tornam doentes. Uma planta deficiente somente pode gerar um homem deficiente e deficiência sempre significa doença.  Por isso precisa-se a cada ano mais leitos hospitalares. Doenças antes nunca vistas aparecem, especialmente de vírus, como também nas plantas as pragas e doenças aumentam ano a ano ( qualquer correlação com o corona vírus não é mera coincidência). Em 1970 existiam no Brasil 193 pragas.  Atualmente ultrapassa 650.  De onde vieram?  Bactérias, fungos, vírus e insetos que antes eram pacíficos e até benéficos agora se tornam parasitas.  Por que?  Porque as plantas são doentes nos solos doentes. E o solo é doente quando perde sua vida, sua porosidade, seu equilíbrio em nutrientes". 

No contexto atual que estamos vivendo, atônitos, no Brasil, a liberação de quase 300 novos agrotóxicos ( a maioria proibida em países desenvolvidos) em um ano de governo é uma verdadeira catástrofe.  Ao longo de 2019 e início de 2020,  simplificam-se mais as exigências para liberação dos venenos que irão envenenar nossos solos, nossos aquíferos, e por conseguinte, o ser humano.  Estamos chegando ao absurdo de obter liberação desses venenos via internet, sem qualquer estudo técnico que antes eram exigidos. Até o recurso de mudar a classificação desses produtos está sendo usado para permitir que novos e novos agrotóxicos sejam liberados, enriquecendo cada vez mais a poderosa indústria da morte. 

Dessa forma, presto minha singela homenagem a uma mulher que durante 60 anos de militância e pesquisas, disse não a esse modo artificial e pernicioso de produzir alimentos, passando seus sábios conhecimentos a gerações e gerações de alunos, agricultores, pesquisadores e estudiosos do tema. O Movimento dos Trabalhadores sem Terra deve a Primavesi grande parte do conhecimento que recebeu para produzir de forma ambientalmente saudável e  natural, alimentos orgânicos em muitos dos seus 10.000 assentamentos no Brasil. Um Assentamento no Rio Grande do Sul é o maior produtos nacional de arroz orgânico.

Ana, pessoas como você não morrem jamais.  Seu precioso legado jamais será esquecido, pois ficou "plantado"  nos solos e nas cabeças de quem teve o privilégio de aprender e praticar os seus preciosos ensinamentos por um mundo melhor e mais saudável.  








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