Olá amigos e amigas
Hoje é um dia muito especial para mim. Em 26 de outubro de 1923 nascia meu pai, Dário Marchesini.
Teve um início de vida muito difícil e triste. Perdeu o pai e a mãe muito novinho. Foi criado pela avó Emília Marchesini, a matriarca da família que saiu de Veneza, na Itália, fugindo da Guerra, e veio se estabelecer em São Paulo. Tiveram 10 filhos, e um deles se chamava Antônio Marchesini,, casado aos 21 anos com Antonina Marchesini. Tiveram 3 filhos: Dário, Diva e Emília.
Dário foi então criado pela avó Emília, e depois pelo tio Carlo Marchesini, também filho de Emília.
Aluno brilhante, Dário queria ser médico, apesar de já naquela época entender de mecânica de carros e eletricidade de uma forma geral.
Com grande esforço pela pouca condição financeira, Dário prestou um vestibular dificílimo, quando havia provas orais e escritas, ele passou e concluiu o curso, tendo sido o segundo melhor aluno. O primeiro foi o ex Governador Roberto Santos, de família rica e famosa em Salvador.
Pouco tempo após a sua formatura, em 1949, ele namorou e se casou com Júlia, nossa mãe. Tiveram 3 filhos: Sandra (eu), Ivana e Dário Antônio. Vinte anos depois, já com quase 60 anos, ele adotou David, hoje com 40 anos.
Exerceu a medicina com grande amor e desvelo, e nunca parou de estudar, numa época em que não existiam MBA, PÓS nem DOUTORADOS. O Dr Roberto Santos, por ter boa condição financeira, prosseguiu seus estudos nos EUA, inclusive na já famosa Universidade de Harward.
Dário trabalhou num consultório na Ladeira da Palma, com o tio também médico Vitório Marchesini.
Ambos eram Clínicos Gerais, pois naquela época quase não existiam especializações.
Também trabalhou como Médico Escolar na Escola Getúlio Vargas, no ICEIA, tendo se aposentado somente aos 70 anos. Nessa escola ela era responsável pela saúde de todos os alunos, e muitas vezes dos seus familiares. Numa época em que existiam poucas vacinas, ele tinha de se empenhar muito em convencer as mães em vacinarem os seus filhos, especialmente contra a paralisia infantil. Naquela época, em que as Escolas Públicas eram as melhores, as crianças podiam contar com médicos e dentistas. Meu pai foi o último médico escolar de Salvador.
Com o que ganhava no consultório e na Escola Getúlio Vargas, criou e educou seus três filhos, e depois o David, que se graduou em Biologia. Mas nada disso teria sido possível sem a participação fundamental da nossa mãe Júlia, hoje com 90 anos de idade. Numa época em que as mulheres não trabalhavam, ela se formou em professora primária no ICEIA, e passou a lecionar após concurso público. Com 3 filhos pequenos, Júlia ensinava e, pouco tempo depois dos filhos terem nascido, ela se aventurou a prestar vestibular, na Faculdade Católica, para Pedagogia. Passou e seus rendimentos aumentam, e assim podia ajudar a meu pai com as despesas da casa.
Mas Dário não se contentou em trabalhar apenas no consultório e na Escola Getúlio Vargas. Passou a trabalhar também em Unidades de Emergência, como o SANDU do Barbalho, o PAM ROMA. Dava plantões de 24h, e muita vezes dobrava os plantões, substituia colegas. Nunca se queixava de cansaço. Tinha uma boa saúde, e se cuidava, apesar de nunca ter praticados atividades físicas, coisa rara nessa época.
Comprou o seu primeiro carro muito tempos depois de formado, um JEEP. Depois trocou por uma RURAL, e teve duas. Ele mesmo consertava os seus carros, e chegou a inventar um aparelho para melhorar a ignição do motor. Esse aparelho alguns anos depois passou a fazer parte de todos os carros.
Dário gostava de passear de carro, amava dirigir; muitas vezes saia de Itapoã até a Cidade Baixa com minha mãe e nós três. Nunca fez regime, nunca engordou. Morreu com a barriga de tanquinho, da qual eu sinto não ter puxado a ela. Gostava de viajar com a família, nunca viajou sozinho. Fazia festas, confeccionava enormes balões de São João, que eram soltos na cidade, pois não havia nenhuma lei proibindo essa prática. As festas de Natal também eram maravilhosas. Gostava de presentear todo mundo, inclusive as secretárias. Algumas vezes se vestia de Papai Noel, e nos fez acreditar que este existisse mesmo depois de já estarmos bastante crescidinhos.
Na sexta-feira da Semana Santa era uma festa. Minha mãe, excelente cozinheira, fazia caruru, vatapá, galinha de xinxin, feijão de leite que eu nunca consegui gostar, frigideira de siri catado, peixe frito e farofa de azeite de dendê.
Tivemos uma criação muito rígida, éramos muito disciplinados e responsáveis. Quando chegava com o boletim em casa repleto de notas 9 e 10, ele me dizia: você não está fazendo nada além da sua obrigação. Estudar era o objetivo maior, quase uma obsessão. No curso de inglês no EBEC que comecei aos 7 anos, ele me colocava para estudar e estudar, até saber tudo. Nunca tirei uma nota menor que A, e concorria com uma colega, Cíntia Barreto de Araújo, cuja família era dona de uma grande empresa de construção civil, e a mãe era professora de inglês.
Apesar de querer muito ter um filho médico, eu não suportava, e cheguei a desmaiar muitas vezes até mesmo quando fazia exame de sangue. Mas quando optei por fazer Engenharia Elétrica, profissão praticamente de homens, ele não se opôs e me deixou livre para fazer o que eu quisesse. Felizmente a minha irmã Ivana, um anos mais nova que eu, fez Medicina e se formou Oftalmologista.
Como a família era de classe média média,, e as poucas Universidade e Faculdades particulares que existiam eram caríssimas. Portanto, nós tivemos duas opções: ou passar na UFBA ou não estudar.
Todos três passaram.
Muitos anos depois de formado, Dário começou a lecionar na Faculdade Bahiana de Medicina, a disciplina Saúde e Segurança do Trabalho. Ensinou muitos anos, e só saiu quando estava bem velinho. Até hoje encontro médicos e médicas que foram seus alunos, e têm por ele muito respeito e admiração.
Como médico, costumava ser interrompido pelo telefone na madrugada, pois alguma mãe aflita necessitava da sua ajuda profissional. Levantava, pegava a sua maleta e lá ia ele atender pessoas especialmente crianças. Quando a mesma tinha febre, aplicava o remédio e ficava sentado esperando a febre passar. Inúmeras vezes eram pessoas pobres, que não podiam pagar a consulta, e ele não se incomodava com isso. O amor à profissão sempre esteve à frente do interesse econômico.
Como não haviam exames de ultrassonografia, tomograficas e tantas outras "ias", o diagnóstico da doença era baseado em uma boa anamnese e exames de toque. Dessa forma ele identificava com precisão o que o paciente tinha. Certa vez, me contou óntem o primo João, chamado Janjão, que ele foi até a casa da sua avó Marina, pegou no seu pé e disse: você tem diabete. E ela de fato tinha, e passou a se tratar com ele.
Um pouco pessimista, falava sempre que não ia ver as filhas completarem 15 anos. Tanto viu, como também as viu se formarem, se casarem e terem filhos, seus 6 netos.
Mesmo aposentado de todos os empregos, continuou atendendo no consultório que ficava nan parte de baixo da sua casa, bem como atendia também alguns familiares nas suas casas, especialmente seus netos, que nunca precisaram ir a um pedatra. Bastava eu ligar para ele quando os meninos tinham alguma coisa para ele chegar em menos de meia hora.
Além da Medicina, Dário teve inúmeros outros interesses ao longo de sua vida. Era fotógrafo, teve dezenas de modelos de máquinas; fez o primeiro selfe já naquela época. Também teve dezenas de filmadoras Super 8, Super 16. Filmava todos os eventos da família, mas raramente nós víamos o filme!!! kkkkk
Conheceu a Fotografia Kirlian, que fotografava a aura das pessoas, e através da análise da aura, sabia-se da saúde física e mental do paciente. Também se encantou com o pêndulo, que indicava se a energia estava fluindo de forma correta ou não. Só prescrevia um remédio depois que colocava o pênndulo. Também fez curso de homeopatia, que ele admirava muito.
Mas o seu tempo foi chegando, e os problemas respiratórios, que o acompanhavam desde a infância, foram se agravando. Após deixar o último emprego, foi tomado por uma tristeza muito grande. Mas seguiu firme até que o seu amado filho David se formasseem Biologia. Só então ele partiu, aos 84 anos, depois de uma longa vida que valeu muito a pena!!!
Onde quer que você esteja agora meu pai, sei que está bem e certamente continua atuando como médico nas colônias espirituais deste vasto e misterioso mundo espiritual. Fique com Deus e muito obrigada por tudo o que você fez em vida, salvando muitas vidas.
Hoje é um dia muito especial para mim. Em 26 de outubro de 1923 nascia meu pai, Dário Marchesini.
Teve um início de vida muito difícil e triste. Perdeu o pai e a mãe muito novinho. Foi criado pela avó Emília Marchesini, a matriarca da família que saiu de Veneza, na Itália, fugindo da Guerra, e veio se estabelecer em São Paulo. Tiveram 10 filhos, e um deles se chamava Antônio Marchesini,, casado aos 21 anos com Antonina Marchesini. Tiveram 3 filhos: Dário, Diva e Emília.
Dário foi então criado pela avó Emília, e depois pelo tio Carlo Marchesini, também filho de Emília.
Aluno brilhante, Dário queria ser médico, apesar de já naquela época entender de mecânica de carros e eletricidade de uma forma geral.
Com grande esforço pela pouca condição financeira, Dário prestou um vestibular dificílimo, quando havia provas orais e escritas, ele passou e concluiu o curso, tendo sido o segundo melhor aluno. O primeiro foi o ex Governador Roberto Santos, de família rica e famosa em Salvador.
Pouco tempo após a sua formatura, em 1949, ele namorou e se casou com Júlia, nossa mãe. Tiveram 3 filhos: Sandra (eu), Ivana e Dário Antônio. Vinte anos depois, já com quase 60 anos, ele adotou David, hoje com 40 anos.
Exerceu a medicina com grande amor e desvelo, e nunca parou de estudar, numa época em que não existiam MBA, PÓS nem DOUTORADOS. O Dr Roberto Santos, por ter boa condição financeira, prosseguiu seus estudos nos EUA, inclusive na já famosa Universidade de Harward.
Dário trabalhou num consultório na Ladeira da Palma, com o tio também médico Vitório Marchesini.
Ambos eram Clínicos Gerais, pois naquela época quase não existiam especializações.
Também trabalhou como Médico Escolar na Escola Getúlio Vargas, no ICEIA, tendo se aposentado somente aos 70 anos. Nessa escola ela era responsável pela saúde de todos os alunos, e muitas vezes dos seus familiares. Numa época em que existiam poucas vacinas, ele tinha de se empenhar muito em convencer as mães em vacinarem os seus filhos, especialmente contra a paralisia infantil. Naquela época, em que as Escolas Públicas eram as melhores, as crianças podiam contar com médicos e dentistas. Meu pai foi o último médico escolar de Salvador.
Com o que ganhava no consultório e na Escola Getúlio Vargas, criou e educou seus três filhos, e depois o David, que se graduou em Biologia. Mas nada disso teria sido possível sem a participação fundamental da nossa mãe Júlia, hoje com 90 anos de idade. Numa época em que as mulheres não trabalhavam, ela se formou em professora primária no ICEIA, e passou a lecionar após concurso público. Com 3 filhos pequenos, Júlia ensinava e, pouco tempo depois dos filhos terem nascido, ela se aventurou a prestar vestibular, na Faculdade Católica, para Pedagogia. Passou e seus rendimentos aumentam, e assim podia ajudar a meu pai com as despesas da casa.
Mas Dário não se contentou em trabalhar apenas no consultório e na Escola Getúlio Vargas. Passou a trabalhar também em Unidades de Emergência, como o SANDU do Barbalho, o PAM ROMA. Dava plantões de 24h, e muita vezes dobrava os plantões, substituia colegas. Nunca se queixava de cansaço. Tinha uma boa saúde, e se cuidava, apesar de nunca ter praticados atividades físicas, coisa rara nessa época.
Comprou o seu primeiro carro muito tempos depois de formado, um JEEP. Depois trocou por uma RURAL, e teve duas. Ele mesmo consertava os seus carros, e chegou a inventar um aparelho para melhorar a ignição do motor. Esse aparelho alguns anos depois passou a fazer parte de todos os carros.
Dário gostava de passear de carro, amava dirigir; muitas vezes saia de Itapoã até a Cidade Baixa com minha mãe e nós três. Nunca fez regime, nunca engordou. Morreu com a barriga de tanquinho, da qual eu sinto não ter puxado a ela. Gostava de viajar com a família, nunca viajou sozinho. Fazia festas, confeccionava enormes balões de São João, que eram soltos na cidade, pois não havia nenhuma lei proibindo essa prática. As festas de Natal também eram maravilhosas. Gostava de presentear todo mundo, inclusive as secretárias. Algumas vezes se vestia de Papai Noel, e nos fez acreditar que este existisse mesmo depois de já estarmos bastante crescidinhos.
Na sexta-feira da Semana Santa era uma festa. Minha mãe, excelente cozinheira, fazia caruru, vatapá, galinha de xinxin, feijão de leite que eu nunca consegui gostar, frigideira de siri catado, peixe frito e farofa de azeite de dendê.
Tivemos uma criação muito rígida, éramos muito disciplinados e responsáveis. Quando chegava com o boletim em casa repleto de notas 9 e 10, ele me dizia: você não está fazendo nada além da sua obrigação. Estudar era o objetivo maior, quase uma obsessão. No curso de inglês no EBEC que comecei aos 7 anos, ele me colocava para estudar e estudar, até saber tudo. Nunca tirei uma nota menor que A, e concorria com uma colega, Cíntia Barreto de Araújo, cuja família era dona de uma grande empresa de construção civil, e a mãe era professora de inglês.
Apesar de querer muito ter um filho médico, eu não suportava, e cheguei a desmaiar muitas vezes até mesmo quando fazia exame de sangue. Mas quando optei por fazer Engenharia Elétrica, profissão praticamente de homens, ele não se opôs e me deixou livre para fazer o que eu quisesse. Felizmente a minha irmã Ivana, um anos mais nova que eu, fez Medicina e se formou Oftalmologista.
Como a família era de classe média média,, e as poucas Universidade e Faculdades particulares que existiam eram caríssimas. Portanto, nós tivemos duas opções: ou passar na UFBA ou não estudar.
Todos três passaram.
Muitos anos depois de formado, Dário começou a lecionar na Faculdade Bahiana de Medicina, a disciplina Saúde e Segurança do Trabalho. Ensinou muitos anos, e só saiu quando estava bem velinho. Até hoje encontro médicos e médicas que foram seus alunos, e têm por ele muito respeito e admiração.
Como médico, costumava ser interrompido pelo telefone na madrugada, pois alguma mãe aflita necessitava da sua ajuda profissional. Levantava, pegava a sua maleta e lá ia ele atender pessoas especialmente crianças. Quando a mesma tinha febre, aplicava o remédio e ficava sentado esperando a febre passar. Inúmeras vezes eram pessoas pobres, que não podiam pagar a consulta, e ele não se incomodava com isso. O amor à profissão sempre esteve à frente do interesse econômico.
Como não haviam exames de ultrassonografia, tomograficas e tantas outras "ias", o diagnóstico da doença era baseado em uma boa anamnese e exames de toque. Dessa forma ele identificava com precisão o que o paciente tinha. Certa vez, me contou óntem o primo João, chamado Janjão, que ele foi até a casa da sua avó Marina, pegou no seu pé e disse: você tem diabete. E ela de fato tinha, e passou a se tratar com ele.
Um pouco pessimista, falava sempre que não ia ver as filhas completarem 15 anos. Tanto viu, como também as viu se formarem, se casarem e terem filhos, seus 6 netos.
Mesmo aposentado de todos os empregos, continuou atendendo no consultório que ficava nan parte de baixo da sua casa, bem como atendia também alguns familiares nas suas casas, especialmente seus netos, que nunca precisaram ir a um pedatra. Bastava eu ligar para ele quando os meninos tinham alguma coisa para ele chegar em menos de meia hora.
Além da Medicina, Dário teve inúmeros outros interesses ao longo de sua vida. Era fotógrafo, teve dezenas de modelos de máquinas; fez o primeiro selfe já naquela época. Também teve dezenas de filmadoras Super 8, Super 16. Filmava todos os eventos da família, mas raramente nós víamos o filme!!! kkkkk
Conheceu a Fotografia Kirlian, que fotografava a aura das pessoas, e através da análise da aura, sabia-se da saúde física e mental do paciente. Também se encantou com o pêndulo, que indicava se a energia estava fluindo de forma correta ou não. Só prescrevia um remédio depois que colocava o pênndulo. Também fez curso de homeopatia, que ele admirava muito.
Mas o seu tempo foi chegando, e os problemas respiratórios, que o acompanhavam desde a infância, foram se agravando. Após deixar o último emprego, foi tomado por uma tristeza muito grande. Mas seguiu firme até que o seu amado filho David se formasseem Biologia. Só então ele partiu, aos 84 anos, depois de uma longa vida que valeu muito a pena!!!
Onde quer que você esteja agora meu pai, sei que está bem e certamente continua atuando como médico nas colônias espirituais deste vasto e misterioso mundo espiritual. Fique com Deus e muito obrigada por tudo o que você fez em vida, salvando muitas vidas.
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